A doce nostalgia duma carta melancólica
Andei revirando coisas antigas, antigos álbuns de fotos e lembrei do passado. Foi inévitável que sua imagem viesse novamente à tona. Também não pude deixar de notar que em todas as fotos que estamos juntos havia um brilho especial em meus olhos. Honestamente, isso não me surpreende. Era impossível que algum garoto não se apaixonasse por você naquela época. E eu não fui o que fez o impossível. Não sei se até hoje consegui expressar o que sentia ou se ao menos você chegou a ter conhecimento disso. Não era fácil pra um tímido garoto se expressar, mesmo se fosse pra garota que em todos momentos estava ao seu lado. As vezes chego a pensar que se eu tivesse tido coragem, seria diferente. Provavelmente não teria conhecido minha última namorada, nem teria deixado que ela partisse meu coração. Desculpe, ignore, essa história já está bem enterrada. Acho que você já deve estar bem casada, talvez com duas ou três crianças lhe chamando de mãe, mas ainda assim, eu não acredito que vou me arrepender de lhe escrever isso. Não só por tentar reviver uma antiga a saudável amizade, mas pra desacorrentar a criança que dorme em mim. Pra libertá-la da sina nostálgica de lembrar as chances perdidas, as asneiras ditas e os erros cometidos. Tenho de te dizer que, após todos esses anos, acreditando que tinha superado tudo e seguido em frente, estou dando um passo atrás. Por que não dar uma chance a um amor nunca correspondido se o mesmo nunca teve uma resposta? Onde está o charme da vida senão em recomeçar tudo denovo? ... Acho que nesse ponto você já entendeu o verdadeiro motivo de tantas palavras. Deve estar se perguntando pra onde responder se não há endereço no remetente. É, eu não tenho casa, há tempos ando pelas esquinas da vida sem endereço. Sinto muito. Mas ainda assim deixo-lhe um pedido: que deixe uma nota na porta dos eu apartamento 7 dias depois da data desta carta. Assim posso saber se devo bater ou apenas dar meia volta. Se eu pareço muito confuso ou obsecado, por favor, não avise as autoridades, apenas entenda e deixe claro na nota que sou indesejado. Prometo que não lhe atormentarei mais depois dessa data.
Domingo, 28 de maio de 2006"